domingo, outubro 29, 2006

Experiência e Premonição

“Muito da nossa experiência tem raízes em um mundo que não existe mais”. (Roberto Shinyashiki)

O que me levou a escrever sobre o tema foi uma discussão que tive com um colega. Porém, o resultado foi inócuo e como civilizado que somos a conversa acabou numa saborosa pizza. O assunto surgiu quando ele argumentou que uma pessoa experiente sempre leva vantagem. Ao que contrapus de pronto:
- Depende!
- Depende de quê? Ele argüiu.
- Respondi: depende do contexto do ambiente, e continuei, defina o que é experiência, então!
- Ele disparou: é uma forma de conhecimento abrangente, não organizado, ou de sabedoria adquirida de maneira espontânea durante a vida; prática, sistemático....
- Leu o dicionário pela manhã? Tomou breakfast com o Aurélio hoje cedo? Quem me conhece sabe quanto valorizo este instrumento, a ponto de não considerá-lo o ‘pai dos burros’ e sim, a ‘mãe dos esclarecidos’. Comecei por argumentar com um clichê conhecido sobre o termo: Ter experiência é equivalente a dirigir um carro guiando-se pelos retrovisores.
- Ele riu e falou: isto é muito simplório para a magnitude que encerra o vocábulo!
Pode rir, falei, mas não antes de eu argumentar, e comecei: A experiência se dá pela agregação de padrões do que é estabelecido como ‘correto’, ‘bom’, pois se temos sucesso, adotamos aquele padrão operacional, se erramos não adotamos nenhum modelo, simplesmente fazemos de novo até acertar ou desistimos; a isto Nonaka e Takeuchi (1995) denominam aprendizado tácito, isto é, o conhecimento do corpo que se dá de forma prática, analógica, subjetiva, contribuindo na formação dos modelos mentais do indivíduo. Os modelos mentais são nossos guias para a ação. Humanos são seres oportunistas, imediatistas, comodistas, que preferem um mundo estável constante, linear, previsível, em contra-partida detestamos riscos, incertezas imprevistos, instabilidade, pois criam desconforto e, isto não faz parte da natureza humana. Hoje, o mundo em que vivemos é de mudanças, transformações conferidas por saltos quânticos, não mais lineares ou progressivas ou incrementais, tornando nossas experiências efêmeras e a demanda por conhecimento, premente.
- Mas, o que tem isto haver com experiência? Meu colega arguiu.
- Eu explico: Este comodismo se dá em nível corpóreo, somos movidos pela lei do menor esforço e, com a mente não é diferente; queremos permanecer na zona de conforto.
- Aonde você quer chegar? Meu colega perguntou.
- Tenha calma, já chego lá! O celebro arquiva nossas experiências e quando percebe a eminência de uma ação que temos que realizar, compara com os padrões arquivados (estabelecidos) – a experiência que temos sobre algo que precisamos empreender tolhendo desta forma a capacidade de criar, improvisar, inovar. A melhor definição de insanidade que conheço é: querer chegar a novos lugares, trilhando caminhos já conhecidos. Imaginemos um ambiente instável, sujeito a ameaças, desconhecido! Como nossa experiência contribuiria? Respondo: nossa mente não encontraria padrões estabelecidos para medidas satisfatórias nesse ambiente e, ai agiria com posturas defensivas, de autodefesa (sobrevivência), na manutenção do status quo (continuidade), porém, num ambiente de mudanças, estratégias reativas ou de adaptação não garantem ganhos, avanços e, se o que buscamos é a competitividade, precisamos mais do que a manutenção do status, necessitamos medidas arrojadas, impulsivas, corajosas, inovadoras. A experiência faz parte do componente ‘habilidades’ que juntamente com o ‘conhecimento’ e ‘atitudes’ estruturam a competência. Ideal seria o desenvolvimento da premonição, o contra ponto da experiência, contudo neste estágio do desenvolvimento humano, esta aptidão não se encontra desenvolvida, e não faz parte do portfólio de capacidades humanas.
- Meu colega falou: meu avô é um homem muito experiente, vivido, capaz, mas vive me pedindo para programar o aparelho de DVD, celular, etc. Acho que toda experiência que ele acumulou na vida foi válida até os anos 90. (risos)
E fomos degustar a pizza, que estava ótima, por sinal!

O que levamos de um estágio de vida anterior para a futura, são nossas experiências, que servirão somente para coibir a incidência em novos erros. Entretanto, a preocupação não é evitar errar e sim gerar os acertos!

Na busca de novos caminhos onde nossa experiência inexiste quiçá nos leve a novos erros, um risco que corremos, mas progredir é se arriscar, não se descobre novidades fazendo repetidamente as mesmas coisas! É ai que entra em cena o conhecimento – a agregação dos novos conceitos adquiridos transforma-se em outros, ainda mais novos.

Somente veremos a planície por traz da montanha, se a escalarmos. A experiência é adquirida principalmente pela reflexão sobre erros e sucessos passados.
“Experiência é tempo e disposição multiplicados pelo número de vezes que você comete o mesmo erro para aprender”. (Alain Belda)
“Experiência é o resultado dos dados sensoriais elaborados pelo intelecto, ou seja, o conhecimento empírico implica na participação intelectual nos dados sensoriais” (Emannuel Kant)

30/10/2006